Solteira e feliz?
Nota de introdução. Sentada aqui no meu sofá, enquanto fujo de algumas (só algumas) comemorações da Copa por cá, ligo a TV e escolho o canal: GNT, programa Saia Justa com Astrid Fontenelle, Barbara Gancia, Maria Ribeiro e Mônica Martelli. É um programa com mulheres aparentemente normais, cheias de todas as qualidades, vaidades, dúvidas e defeitos como muitas de nós, mas mulheres que dão a cara a tapa na TV para conversar e repensar seus pontos de vistas. Não foi feito, pelo menos é o que acho, para ninguém mudar de opinião. A ideia alí é fazer a roda e conversar ética, comprometidamente e informalmente assuntos que para muitas de nós são interessantes, não necessariamente indispensáveis. Tenho assistido com uma certa frequência (sempre que posso). O Episódio de ontem foi o 16 da primeira temporada deste ano, dia 25 de julho de 2014.
Veja detalhes http://gnt.globo.com/programas/saia-justa/episodios/5187.htmCom a mudança do primeiro bloco do programa Saia Justa de ontem, o segundo tópico: Solteira e quase feliz. Astrid faz a pergunta ‘é possível ser solteira e feliz?’ e Barbara imediatamente responde ‘Não!’ Eu gosto particularmente desse programa porque essas meninas são muito autênticas. Elas falam com muita desenvoltura sobre suas opiniões e quase muito sem compromisso com o politicamente correto. Eu respeito demais isso. Mas, com a resposta da Barbara, Astrid chamou o intervalo e eu tive tempo de me indignar, refletir e ponderar sobre o impacto que senti com a súbita resposta ‘Não’ de Barbara (para mim a mais espontânea em suas respostas durante o programa).
Não! Solteira e feliz? Não! Em segundos eu vi minha solteirice inteira passar como um filme em minha super habitada mente. Vi todos os meus pequenos e grandes momentos de menina e depois de mulher solteira. Em cada um deles eu procurei resquícios de infelicidade ou de tristezas resultantes do fato de ser ou estar solteira. Não achei um só. A minha solteirice foi a melhor que eu poderia ter tido. Eu a vivi com todas as possibilidades e emoções possíveis. Diverti-me muito sozinha, com amigos (principalmente com amigos), com meus familiares e com colegas de trabalho. Viajei para os cantos que desejei e pude bancar com meu doce e amargo trabalho de professora. Investi em minha educação acadêmica e profissional. Cultivei meu lado espiritual e me descobri de diversas formas. Tive bons relacionamentos e nenhum deles (felizmente) resultou em casos mal resolvidos. Namorei o suficiente, tive amantes, amados, safados, danados, inesquecíveis amores que estão todos por cá e não se tornaram fantasmas.
Nos segundos em que tudo isso me veia à mente, voltei-me também para o abandono de minha solteirice há pouco menos de dois anos (pouco tempo, hein?). Há dois anos eu disse sim, não para o meu noivo, mas para mim mesma. Sim, tu vais viver esse amor a dois, nos moldes de um casamento, dormindo e acordando com ele, sonhando viagens a dois, sorrindo momentos a dois, voltando para casa a dois, planejando futuros a dois, abrindo mão de algumas coisas. Nas alegrias e nas tristezas, a dois. Sim! Tu vais experimentar não só o casamento mas também a não-solteirice.
Eu quis isso. Eu tenho gostado disso. A minha escolha finalmente, após poucos dois anos, não resultou ainda em um grande equívoco e acho que não tem chances de resultar mesmo que eu decida daqui para amanhã voltar a ser solteira. Não será um equívoco porque na minha vida felizmente as coisas que faço se revertem sempre em grandes experiências e sabores. Entretanto, o abandono de minha vida de solteira foi sim e ainda o é uma transição um tanto perturbadora. Foi quase como (imagino eu) um divórcio em um casamento sem filhos. Divorciei-me de tudo que fazia sozinha e bem acompanhada. Sozinha eu decidia tudo, mudava o mundo, construia o meu mundo. A hora que ia e a hora que voltava só diziam respeito a mim. Eu desejava estar entre muitos, dava-me o poder de estar sozinha quando queria e meus amigos eram a minha melhor companhia. Afinal, porque raios eu iria de certa forma trocar tudo isso por um ‘casamento’? Eu descobri com o tempo que a minha escolha de viver a não-solteirice teve um impacto imenso sobre mim e sobre todos os que costumavam estar ao meu redor.
Com o namoro sério ou o casamento, depois de uma longa vida solteira, custa muito às pessoas acostumarem-se com tua nova fase. Uns amigos e parentes (geralmente os mais bem resolvidos com suas próprias vidas, solteiros, casados ou divorciados) vão vibrar. Vão abraçar a tua causa e trazer o teu amor para dentro do teu grupo e mostrar para ele que ele não vai te tirar de lá e sim tornar-se parte de tudo. Esses, do meu ponto de vista, são os melhores. Outros vão te olhar com descrédito e soltar um irônico ‘como tu foste cair nessa?’; outros vão te olhar com reverência "nossa! Tu vais casar? Que lindo!Amém! Aleluia!Graças a Deus!; e outros vão simplesmente se afastar ou te ignorar.
Com o anúncio da mudança, algumas pessoas olhavam para mim e diziam “nossa! Como tu estás mais bonita! Amar faz bem, hein!” outros diziam “tu tens certeza de que não queres mudar de ideia? Ainda dá tempo!”. Os amigos que ignoraram-me simplesmente desapareceram aos poucos. Não queriam minha companhia e de meu amado e foram cortando os encontros. Se eu estivesse sozinha ok, mais acompanhada não. Foram pouco os casos, mas significantes.
Eu sentia um desgosto terrível por aqueles que chegavam e diziam ‘nossa, como tu ficaste mais bonita, até a pele está melhor!’ Sentia quase vontade de vomitar com esses comentários porque essas pessoas (em grande parte mulheres), do fundo de suas tradições machistas, atribuíam toda felicidade e beleza que eu sempre tive agora ao fato de eu estar noiva; como se eu nunca as tivesse tido antes. Pensava eu ‘que palhaçada é essa!’. Eu tinha vontade de responder ‘então tu achas mesmo que homem é a solução pra mulher feia e triste?’ Eu tive uma solteirice bela, feliz, sorridente, produtiva, discreta em muitos casos e escancarada em outros, cheia de intensos momentos e agora as pessoas (uma parte delas) se comportavam como se eu estivesse estado o tempo todo na merda e só agora que arrumei um noivo eu finalmente me descobri feliz e mais bonita. Não fosse pela minha imensa educação eu teria mandado muitos tomar lá no ...alí.
Aos incrédulos e pessimistas eu tinha apenas vontade de dizer ‘é vida! Não é um casamento! É vida! É amor! É desapego! Vida! Deixe-me viver! Se der tudo errado acolha-me e não me venha com aquela conversa de que ‘eu te disse, não disse?’.
Aos que fugiram e inventaram desculpas para não estar mais comigo eu tive vontade de dizer ‘obrigada por me ter afastado voluntariamente de sua superficial companhia’.
É assim, gente. A solteirice e a não-solteirice são estados de vida (que podem durar uma vida ou não) e ambas tem de ser escolhas, e ambas podem nos deixar felizes sim. É fundamental que ambas nos tenham sido dado como escolhas e não como imposições. Será triste o solteiro que deseja casar e ter filhos porque ele quer o oposto de ser solteiro. Será triste o não-solteiro que deseja sair só com amigos e passar noites nas baladas e chegar a hora que quer e fazer planos sozinhos sem se preocupar com ninguém porque isso é o contrário da não-solteirice bem acompanhada. Nem falo de casamento, falo de não-solteirice como a escolha de estar com alguém, o eleito ou a eleita. Isso é vida e viver traz felicidade e agonias; felicidade é um punhado grande de escolhas próprias, de experiências próprias, sejam elas alegres ou tristes, se forem tuas, com o tempo construirão a tua felicidade porque colocarão em xeque a tua capacidade de lidar com fatos de vida.
Às minhas amigas solteiras, tenho muitas, com e sem filhos, eu digo apenas que vivam e curtam e soltem o dane-se a todos que insistem em perguntar ‘e o namorado?’, ‘quando é que tu casas?’, ‘vais ficar pra titia?’. Se forem solteiras educadas como eu fui, simplesmente ignorem com um sorriso enquanto em suas mentes confirmam que são donas de suas vidas e suas escolhas e também das consequências delas. Se forem mais soltas e menos educadas (como eu também sou capaz de ser) olhem bem nos olhos da pessoa que vos fala em pergunte ‘isso faz diferença na tua vida? Foda-se!’.
O fada-se não vai adiantar muito porque ele geralmente se reverte contra quem o diz nas piores teorias comportamentais que pensam desvendar tudo. Portanto, sejamos mais inteligentes em nossas respostas, mesmo nas menos educadas e lembremo-nos sempre de que ser feliz não é andar cantando, gargalhando, abraçando e sorrindo para todo mundo. Tu podes chorar e te entristecer sem que isso signifique que tua vida é uma grande infelicidade, uma tragédia. Ser feliz é viver!
O fada-se não vai adiantar muito porque ele geralmente se reverte contra quem o diz nas piores teorias comportamentais que pensam desvendar tudo. Portanto, sejamos mais inteligentes em nossas respostas, mesmo nas menos educadas e lembremo-nos sempre de que ser feliz não é andar cantando, gargalhando, abraçando e sorrindo para todo mundo. Tu podes chorar e te entristecer sem que isso signifique que tua vida é uma grande infelicidade, uma tragédia. Ser feliz é viver!
É possível ser solteira e feliz sim, mas isso é para os fortes porque nossa sociedade é muito fraca. É possível estar casada e feliz sim mas isso vai depender muito do tempo em que passaste solteira e feliz. Vai depender dos relacionamentos e laços verdadeiros que construiste, vai depender da autenticidade de tuas ações na solteirice e da certeza de tuas escolhas. Vai depender muito de ti e de tudo que tu te deste de presente enquanto vivia sem a companhia deste que hoje chamas de ‘meu amor’ e de tudo que te das de presente enquanto experimenta a novidade que abraçaste.
O importante é ser-se, queridas lindas. :) Solteiras, divorciadas, casadas, whatever. É preciso ser forte para conquistar o que se deseja ser. Ser feliz é para os fortes.
Aqui está o vídeo e as fotos discutidas durante o programa mencionado. Vale a pena assistir, ver e refletir.
beijos